Osasco,22 de dezembro de 2010
Na verdade eu só estava esperando o trem.
Alí no canto,encostada em uma coluna (como sempre).
- Eu achava que a aquela luz que vinha alí do fundo já era o trem,agora que percebí. É um poste!
-Ok! (pensei e fiz aquele ar de ''velho sábio'').
Ele aparentava ter os seus 48 anos (mal sabia que tinha o quádruplo da minha idade),usava uma boina e na mão uma pasta de couro,carregava muitos cartões postais.
-Você escreve? Digo... escreve cartas?
-Sim (disse com um sorriso meio falho,o mesmo sorriso que ele disse que lembrava alguém).
-Sério?
-Sim. Escrevo!
-Prá quem?
-Para pessoas que eu gosto.
-Nunca encontro ninguém que escreva. Você é uma raridade garota.
(...)
Depois de discutirmos sobre a massificação da cultura,depois que ele adivinhou meu nome e minha profissão (segundo ele o brilho no olhar não nega),depois de conhecer a história de Jeremias (não o maconheiro sem vergonha,um outro que o Brasil esconde atrás das grades),depois de ouvir na gaita de fundo com o som da locomotiva toda a sensibilidade que aquele velho homem carregava no olhar e em sua arte, depois de todos os depois de uma noite ex-chuvosa,escolhi um cartão! Ufa.
Foram-se 20 minutos dentro do vagão,folheando e folheando histórias de tantas vidas que rondam essa São Paulo. (Me lembrei dos túmulos do ''Cemitério dos Elefantes'',encontrei muitos Brunos,Jaimes,Simones,Donas Terezinhas desenhadas por alí).
Escolhi o de um velho,um velho com ar de sábio,como ele... carregando uma câmera.
- 18 anos... e já tanto sofrimento,Ellen?
(Estava distraída)
-Como?
-Os olhos,os olhos nunca escondem nada...
-Amadurecí cedo,só isso!
- O Amadurecimento sempre vem carregado de sofrimento... Continue com o sorisso no rosto ''Orquídea'',o seu maxilar é lindo e a voz bonita também,aproveite-a no canto.
Acho muito engraçado a capacidade que tenho de amar ou odiar as pessoas momentâneamente!
Eu o amei por 20 minutos.
Destinatário: A/C Edson dos cartões postais
Segundo vagão do trem com destino a Itapeví.